quarta-feira

Inferno das eleições...REFLICTA

Já nos encontramos todos um pouco fartos com o aproximar de mais umas eleiçõe que se aproximam, e todo aquele qui pro quo tradicional que acompanha uma campanha… Desde as promessas dos candidatos, ás trocas de acusações entre os mesmos candidatos\pretendentes, ás imagens de promessas não cumpridas em campanha eleitoral, ás tradicionais reclamações dos eleitores.
Em geral, estes, os eleitores (todos nós) são os mais chatos de todos. Entre eles não há um que se encontre satisfeito ou em paz com as escolhas que fez na eleição anterior. Em geral, já tem uma longa lista do que o próximo candidato escolhido, por ele tem que fazer, tem que deixar de fazer isto e aquilo e fazer assado ou guisado e assim por diante.
Mas uma das perguntas que mais faz a maioria dos eleitores ficar com a língua em brasa é: “ o quanto o eleitor (e estamos todos englobados aqui) reflectiu na escolha que fez?!”

Para a maioria de nós, uma bela discussão num bar com os amigos, complementada por uma leitura diagonal (isto é, muito mal feita) de um jornal, por simpatia ou gostos pessoais, é reflexão mais do que suficiente para a escolha de um candidato.
Agora imagine-se reflectir sobre os nossos candidatos e sobre o que eles realmente são ou pretendem com a eleição, isto nem pensar.

Para a maioria das pessoas, a reflexão não é parte integral da vida, e sim uma pequena conveniência, que deve ser relegada aos ditos “tipos intelectuais” ou mais conhecidos como “professores” (M.R.S.) ou os super entendidos em tudo e mais alguma coisa (M.S.T.).
Muitos eleitores até assumem o seu lado intelectual e passam algumas horas dos seus dias reflectindo na mesa de um bar ou num convívio saudável com os amigos nas pastuscadas de fins de semana à tarde.

Mas porque é que este tipo de situações vem se repetindo com cada vez mais frequência?! Porque é que acreditamos cada vez mais em pseudo-especialistas, que de especial têm somente seus contactos jornalísticos e mediáticos!!
Ora, a razão me parece relativamente simples: nós e maioria do povo do mundo estamos cada vez mais a acostumarmo-nos a não a reflectir.
O pensamento, como ferramenta para uma vida melhor, foi e está cada vez mais a ser descartada do quotidiano de cada um. A reflexão é cada vez menos valorizada numa sociedade onde a pressa, a busca pelo prazer instantâneo, é encarada como a única forma possível de se construir uma vida para si mesmo.

Mas o que é reflectir?

Reflectir não é somente produzir palavras em cima de palavras ou pensamentos em cima de pensamentos, com opiniões sobre tudo o que se observa.
Reflectir é a capacidade de integrar nossas experiências com as observações sobre o quotidiano. É saber fazer um questionário inteligente das nossas ideias e desejos, em última instância, reflectir significa aceitar que sua vida não é tão significativa assim para a sociedade, mas é muito significativa para si mesmo. Aquela que deveria ser uma ferramenta do nosso dia a dia, foi relegado a ser um fetiche ou exclusividade de alguns.

Quase diariamente leio nos jornais, vejo na televisão e na WWW (Internet, para os mais distraídos) que estamos a viver a “era da informação”.
Mas sem reflexão, sem vivência, informação é somente uma colecção de "lixo" inconclusivos, que servem de bagagem para que possamos discutir, enquanto enborcamos mais uma min, numa qualquer mesa de bar.
A informação só se torna relevante, quando a entendemos sob a óptica de nossas ideias e princípios, e utilizando a ARTE de reflectir. Infelizmente, a Internet não vai fazer isso por nenhum de nós, e apesar de vários músicos e artistas do mundo quererem ser também nossos CONDUTORES neste sentido...mas não vai acontecer.

Uma vez ouvi de um amigo \ colega: “ mas reflectir parece tão chato...”. Pois aí está mais um estereótipo que caracteriza qualquer acto de reflexão como sendo uma actividade parada, sem emoção, baseada em pura demagogia lógica, sem os verdadeiros saltos intuitivos e qualitativos que uma verdadeira busca reflexiva lhe oferecerá. A realidade é que quanto mais reflectir, menos pensamos mecanicamente.
- Como assim? Ora, menos nos restringimos em termos do discurso da sociedade, e mais facilmente descobrimos o nosso próprio caminho, aquele onde andamos com naturalidade, onde nossas ideias e intuições acontecem sem exigir grandes esforços.
Como pode ver, quando reflectimos, estamos fazendo um favor a nós mesmo, pois estamos somente formando um artigo de luxo chamado PERSONALIDADE.

Não se engane, muitos professores por aí jamais reflectem. Reflectir não se dá por decreto ou por diploma, não depende de ideologias, não requer somente saber enquadrar uma série de argumentos de forma lógica.
Muitas vezes, podemos dar saltos intuitivos, ou podemos descobrir que não estamos preparados para entender um desejo ou ideia própria. Mas ao menos teremos a clareza de “saber que não sabemos”, e é melhor ter a certeza da dúvida, do que ter a crença de que somos completamente sólidos e consistentes, sendo afinal apenas “máquinas” pré-programadas com aquela resposta da sociedade.

Outra expressão que acompanha o discurso político de muito "animal" político (somos todos, mas fica e sabe bem chamar de isto a alguns desses chamados políticos) é “temos que ser consistentes”. Especialmente em épocas de eleições, muitos se utilizam do discurso da consistência para induzir-nos ao mesmo esgoto anti-reflexivo aonde eles se meteram. Não, meus queridos amigos, familiares, conhecidos e apenas leitores, não precisamos ser consistentes. Na realidade, se reflectimos bem, somos todos inconsistentes, porque nossos desejos mudam com o tempo, e a própria realidade muda de minuto a minuto, com cada evento novo que acontece.

Seria a inconsistência o fim do mundo?
Afinal o que é consistência?
Consistência é de certa forma o oposto da reflexão. Ser consistente significa ter seu comportamento ligado a algum dogma mental com o qual fomos acostumados. Na maioria das vezes significa tão-somente agir de alguma maneira pré-determinada, de acordo com outras acções da sociedade. Ou seja, se fazemos ou aceitamos A, então necessariamente teremos que fazer e aceitar B, e como podemos observar, a consistência é justamente o que ocorre na ausência de reflexão. E o resultado final daqueles que vivem uma vida consistente é uma profunda confusão mental, já que a realidade muda continuamente e constantemente, as informações – hoje em tempo real – são novas a toda hora. Como agir com consistência, sem reflectir, num mundo assim?

Todos dogmas serão sempre reduzidos a pó ao vazio. Neste mundo novo só há lugar para ideias que são provenientes da experiência pessoal e na profunda reflexão, ou pelo menos deveria ser assim. Uma existência saudável deve-se basear somente em ideias assim. Senão estamos criando o veículo para continuar o ciclo da mesma “MERDA” que observamos no quotidiano da sociedade de hoje: as mesmas reclamações de sempre, os mesmos protagonistas de sempre, e os mesmos problemas de sempre. De certa forma, estamos felizes e acostumados com estes problemas, e como sociedade decidimos que é melhor a tragédia “programada” do que o inesperado que surge de uma resolução de qualquer problema que nos afecta actualmente.

Numa sociedade em que, infelizmente, a maioria entre aqueles que podem se dar ao luxo de reflectir (todos nós), não o fazem, teremos sempre o actual panorama de ilusão de controlo que acompanha toda eleição, ou toda e qualquer discussão de ideias no país. Imagine então quando se trata de dar opiniões sobre leis e projectos que determinarão alguns dos rumos da sociedade... Tudo feito às cegas a maioria das vezes.
Portanto, quando puder, tire um tempo para si mesmo e reflicta sobre suas ideias. Pense de onde elas vieram, porquê é que pensa daquele jeito. Se entregue honestamente a este belo acto de contemplação.
E outra coisa, não acredite que pessoas arrojadas de meios e conhecimentos técnicos e conhecimentos dentro da teia de mentiras da política, necessariamente reflectiram sobre aquilo que defendem com unhas e dentes.
Muito pelo contrário, a minha experiência prática é que a maioria destes fanáticos e tipos intelectualóides (pseudo-intelectuais com um travo de mongolóides, e isto sem querer desrespeitar as pessoas que sofrem deste problema) jamais investiram mais do que alguns minutos para adoptar um discurso pessoal. E muitas vezes o discurso adoptado é mais por conveniência, por consistência, do que por ter surgido de uma intuição ou como consequência interiorização reflectiva. Julgam qualquer experiência, mas sempre baseados em sua base pré-fabricada de ideias da sociedade.

Qual é a vantagem em sermos filósofos de bar?
Simples - Não precisamos de compromisso com nossas ideias, não precisamos aplicá-las no quotidiano, e muito menos arriscar o rabioske tentando ver se elas funcionam de verdade. É fácil falar, cobrar, e continuar escondido sob a fachada do anonimato. Se em cada filósofo de bar, existisse um cidadão disposto a tentar a administração do povo, com ideias enraizadas em sua própria experiência e de experiências provavelmente sentidas pelo próprio povo, teríamos nas eleições um rol enorme de escolha entre várias boas opções, ao invés do cansativo embate entre CONSISTÊNCIA de direita ou de esquerda e / ou entre intrujão a prometer A e B e um ainda mais embusteiro a prometer o A juntamente com o C e o B com acrescento do D.
É necessário reflectir qual o futuro que queremos para as nossa vidas, e principalmente para o futuro que aí vêm, nos nossos filhos, sobrinhos, netos, etc…
É possível (mas improvável) que se reflectirmos, possamos errar na nossa escolha, pois estamos a fazer uma escolha com base nas nossas ideias, com base nossas próprias convicções e na nossa própria PERSONALIDADE.
Não sei o que o meu voto pode mudar, nem sei se mudará alguma coisa, mas ainda que mude apenas a minha própria consciência por votar de acordo com os meus ideais, será o suficiente…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Vá lá.. xiba-te de qualquer coisa...